O que te faz chorar?

As pessoas podem enxergar a arte de várias formas. Existem até discussões do que pode ou não ser considerado arte. Mas por outro lado, buscando uma característica marcante, podemos assumir que um papel importante da arte é nos fazer sentir emoções. Emoções das mais variadas: alegria, tristeza, euforia, surpresa, raiva, angústia, dentre tantas outras que possam existir com inúmeras intensidades.

A partir de uma pequena pesquisa, realizada com a equipe da Blast, sobre o sentimento que as pessoas tem diante de uma obra audiovisual, em específico animações, filmes e séries, pude observar algo bem interessante nas respostas e descobrir que as emoções que sentimos, ao apreciar este tipo de obra, mostram muito de nossa verdadeira e profunda personalidade, e que apesar de termos um imenso leque de sentimentos possíveis, podemos fazer uma ligação entre todos eles, por meio de apenas dois sentimentos antagonistas: Alegria e Tristeza. As duas famosas máscaras do teatro grego, sorrindo e chorando, que ainda hoje, retratam muito bem as sensações provocadas pela arte.

Mas o que as pessoas preferem sentir? Será que buscam algum sentimento específico quando buscam esse tipo de obra? Ou simplesmente deixam a cargo da surpresa? Bom, se você não sabe que sentimentos podem te satisfazer, ou quais te fazem chegar ao ápice de derramar uma lágrima, vou dar algumas dicas para você saber quando está próximo de sentir algo assim. E para os que preferem fugir de um "suor nos olhos", indico conhecer as dicas também, pois se você sabe o que te faz chorar, vai saber muito bem do que tem que fugir para que isso não aconteça.

DICA 1: Saiba que tipo de sensações você está sentindo ou pode sentir.

As sensações que nos tomam são inúmeras, mas dificilmente o início de uma obra nos choca o bastante a ponto de nos fazer chorar. Então você pode reconhecer as sensações que vão sendo acumuladas no decorrer dos acontecimentos ou, simplesmente, perguntar para quem já viu. Claro que ler a sinopse e observar o gênero da obra também podem ajudar nessa tarefa. O importante é listar tudo que for possível, como a alegria em ver uma comédia, ou a tristeza ao acompanhar uma tragédia ou despedida, ou até mesmo a euforia ao acompanhar uma batalha com seu personagem favorito.

DICA 2: Identifique sentimentos potencialmente emocionantes.

Somente você pode fazer isso. Um sentimento potencial não deve ser vinculado a uma sensação somente, mas sim se deve associar esta sensação a uma situação, lembrança ou referência, que por algum motivo te traz determinada emoção.

Para ilustrar, podemos supor que alguém sente euforia em ver cenas de boxe ou artes marciais, pois luta, já lutou ou acompanha muito esse tipo de esporte. Outro exemplo, são cenas de pais e filhos, que pode trazer alegria ou felicidade, a depender da referência que você tenha disso. Também não podemos nos esquecer das cenas envolvendo mortes de familiares, personagens órfãos, despedidas entre amigos... Tudo isso pode trazer alguma sensação, seja por lembrança, referência a própria pessoa ou ainda a uma situação similar que lhe toque profundamente, mesmo que acontecida com terceiros.

OBS: Um sentimento potencial pode ser de qualquer tipo. Não necessariamente tristeza.

DICA 3: Atenção com a surpresa, o suspense e a esperança.

Essas três situações podem ocasionar um choque emocional. Isso pode deixar você confuso, fazendo com que tudo o que sentia até agora sofra uma completa reviravolta. Geralmente esse tipo de acontecimento trás picos de sentimentos e se algum deles for potencial, temos aqui uma grande chance se seus olhos lacrimejarem bastante. Seja de alegria, tristeza ou até mesmo raiva.

Entende-se por surpresa quando algo inesperado acontece repentinamente. Já o suspense alimenta uma sensação que caminha para a intensificação deste sentimento, podendo culminar em um alívio ou em uma decepção, quando não acontece o que se esperava. O interessante é que o suspense, muitas vezes, é utilizado para enganar o espectador mostrando que algo está para acontecer, no entanto acaba desapontando por não vir o que se esperava, mas em algum momento chega a surpresa, trazendo a tona o acontecimento que se pensou que não viria mais. A Esperança é um desejo que nasce no espectador, de que algo na obra suceda da forma com que ele quer ou espera. Pode ser alimentada pela própria obra, ou pode ser simplesmente uma criação ou desejo na mente do próprio espectador. Ela é como um suspense, só que ao contrário de uma possível surpresa ou impacto sentimental, acabamos sentido ao final, uma decepção ou realização. Esses dois sentimentos podem ser somados a uma tristeza, como um casal que acaba não ficando junto no final por causa de uma tragédia, por exemplo, ou até a uma euforia de uma luta que se esperava acontecer desde o início da obra, e esta atende ou até supera as expectativas.

DICA 4: O significado das entrelinhas.

As entrelinhas são situações que não são mostradas explicitamente. Mas durante a cena, uma palavra, uma expressão de um personagem ou até mesmo o entendimento de sua história permite você compreender o seu significado, ou seja, o quanto realmente representa aquela situação. O entendimento dessas entrelinhas, no ato da cena, traz uma sensação de realização por ter fechado um ciclo de história com sua conclusão, ou simplesmente sua compreensão, misturada com surpresa e dúvida. Dúvida esta que pode ser sanada simplesmente com o seguir da história, ou ficar em aberto até o fim para a interpretação do próprio expectador. Um exemplo clássico é a separação de um casal feliz sem explicação, onde construímos o entendimento que um deles morreu, mas isso não é dito explicitamente. Em alguns desses casos a esperança e nossas dúvidas só morre com a chegada do fim da história, ou não!

Outro exemplo é o fim de uma grande luta, na qual um discípulo vence, superando seu mestre que acabara de derrotar. Pode ser uma simples luta com vínculo entre os guerreiros, ou ter um significado maior, quando o mestre queria estimular esta situação, enganando seu discípulo, para que ele conseguisse ficar mais forte, ou aprender uma lição muito importante que despertasse um poder maior para alcançar seus objetivos, antes impossíveis.

Agora que você recebeu 4 dicas, para saber o que pode estimular e potencializar o funcionamento de suas glândulas lacrimais, vamos mostrar alguns quadros que te auxiliarão a identificar quantos lenços você precisa comprar.

Quadro A: Sentimentos básicos

1 lenço: Alegria, nostalgia, paz, euforia e saciedade.

Aqui temos sentimentos que nos deixam bem, no estado em que já nos encontramos. Podem nos levar a uma sensação boa de alegria com sorrisos, boas lembranças ou simplesmente não mexer conosco, ficamos estáveis.

2 lenços: Apreensão, revolta, ansiedade, raiva, empolgação e decepção.

Neste grupo podemos perceber vários sentimentos que não esperamos ter quando apreciamos uma bela produção. Por isso essa contrariação pode preparar nossas emoções para surpresas, e quando estas surpresas nos fazem ter sensações contrárias, elas são ainda mais potentes para trazer um cisco em nosso olho até o final da obra. Por isso a empolgação é necessária neste grupo, para nos dar esperança de que algo que nos decepcione bastante não vá acontecer. Já podemos enxergar aqui despedidas, separação de casais, tragédias de família.

3 lenços: Empatia, felicidade, angústia, realização e ódio.

O grupo mais diversificado, com sentimentos que nos levam do sorriso ao choro. Nele temos sensações mais fortes que nos grupos anteriores, que podem trazer uma emoção feliz que te fará chorar, ou no caso de finais tristes ou acontecimentos ruins, te chocarão bastante, ou ainda alimentar uma esperança longa que finaliza em tragédia. Aqui o ódio está presente, pois o choque pode ser tão grande que a pessoa vai chorar de raiva do que aconteceu, ou passar a detestar algum personagem. A chave está na empatia, que faz você ficar muito ligado a um personagem, grupo, lugar ou relacionamento, por exemplo. Todas essas emoções são uma boa mistura, que costumam acompanhar histórias com mortes de personagens secundários, declarações de amor entre casais românticos, fraterno ou entre pais e filhos, a luta dos seus sonhos acabando totalmente sem lógica e de forma decepcionante.

Caixa de lenços: Tristeza, generosidade, compaixão, carinho e surpresa.

O grupo com mais emoções que podem provocar choro com soluços. A mistura de sentimento de tristeza com outros que são considerados mais nobres e sutis, pode dar à história um teor de depressão, que junto à uma surpresa não muito agradável, ao seu final, na certa fará você derramar um rio de lágrimas. Um grupo perfeito para a morte injusta de um personagem legal, que não pode se defender e nem tinha a ver com a briga.

QUADRO B: Situações emocionantes

Vamos listar algumas situações que podem nos fazer cair em prantos. Algumas são mais capazes do que outras:

- Ápices:

Uma cena que trás muita euforia, com batalhas em seu clímax, ou até mesmo um discurso de um presidente dos Estados Unidos. Com o ápice dessas cenas tocando nosso coração, conseguimos nos colocar no lugar dos que estão ali presentes do outro lado da trama, além disso o simples fato do enredo superar nossas expectativas, as vezes, já é motivo para emoção.

- Realizações:

Aqui tem muito a ver com finais, mas podem acontecer no meio da história também. Personagens realizam sonhos, ou atingem seus objetivos que lutaram tanto para alcançar. O sentimento de ver alguém tendo o que sempre buscou sendo conquistado, muitas vezes é expresso pelo suor de nossos olhos.

- Despedidas:

É hora de dar tchau. O que queremos é que todos que ficaram unidos a trama inteira, assim fiquem para sempre. Mas quando isso não acontece nos entregamos ao desespero e a não aceitação. Isso sem falar nas despedidas pré-morte. Mas enfim, é sentar e chorar.

- Declarações:

Aqui é o espaço do amor. Você está querendo conquistar alguém? Não é correspondido? Ou terminaram com você do nada? É aconselhável ver casais ficando juntos e felizes, ou muito pelo contrário se separando, isso vai depender do seu estado de espírito. Um casamento no final, uma declaração de amor, a expressão da amizade, do amor entre pais e filhos, são cenas que sempre rendem boas declarações emocionantes que acabam nos comovendo.

- Morte de Personagem:

O que mais faz alguém chorar é quando algum personagem que amamos morre, ou quando um inocente que quer o bem de todos bate as botas e o vilão fica vivo. E o que falar dos que se sacrificam pela maioria? Bom, quer um lenço agora?

- Identificar-se com alguma situação emocionante:

Um personagem perder o único familiar e você se identificar com isso, alguém que se parece com você alcançando seus objetivos no final, a superação dos traumas de um personagem, pelo quais você é traumatizado também. É aqui que a gente escorrega no chão que nós mesmos encharcamos.

Concluindo

Uma última observação muito interessante é que todos nós somos diferentes. Nossas referências não são iguais, nosso sentimento não funciona da mesma forma. Além disso, o que gostamos ou deixamos de gostar, o que esperamos e o que nos surpreende podem ser coisas totalmente diferentes. Na verdade, essas diferenças são muito mais fáceis de acontecer do que as coincidências. Assim, algo que emocione uma pessoa pode não fazer sentido nenhum para a outra, isso simplesmente por conta de uma referência que a pessoa tenha ou até porque ela se identifica, mas a outra não. Ou seja, esta matéria, lida por pessoas diferentes, pode mostrar identificações diferentes com as dicas ou os quadros e seus grupos. Isso explica muitas situações, em que uma pessoa acha a morte de um personagem motivo de se derramar em berros de desespero, enquanto a outra acha isso nada emocionante comparado a outro acontecimento da mesma obra. Essa mudança de pessoa para pessoa é bem comum.

O ato de chorar, mesmo que venha de sentimentos considerados ruins, mostra o quanto fomos atingidos por alguma história, seja ela um anime, um filme, série etc. O importante é aproveitarmos tudo o que elas tem a nos oferecer.

É importante lembrar que podem existir muitos outros motivos que propiciem o derramar das lágrimas, afinal existem bilhões de pessoas, cada um com sua personalidade, com seus pontos fortes e fracos, que podem acabar não se encaixando em nada do que foi explorado aqui. Mas é por isso que o intuito principal foi mostrar o resultado de uma pesquisa e tentar extrair o máximo de informações do que foi respondido por cada um dos participantes. E ela não termina, mas sim continua, da mesma forma que começou, lá no título, fazendo uma simples pergunta: O que te faz chorar?