Top Literário: 10 Contos do Edgar Allan Poe que você precisa conhecer
Edgar Allan Poe influenciou e continua a influenciar diversos autores ao redor do mundo e inspira leitores com seus contos de terror e mistério, além de seus poemas. Neste Top Literário, trazemos 10 contos do autor que você precisa conhecer.
Eu devo confessar que os autores do século XIX eram incríveis. Nomes como Kierkegaard, Álvares de Azevedo e Joaquim Manuel de Macedo conseguiram através de suas penas conduzir milhões de leitores por universos extraordinários e impressionar suas mentes com o melhor que conseguiam extrair de si mesmos ao registrarem suas ideias e paixões em inúmeras páginas. Eram o que nós costumamos chamar de pontos fora da curva! Um autor que se destacou nas letras norte-americanas e que anos após a sua morte teve o seu trabalho reconhecido mundialmente é Edgar Allan Poe.
Com um foco especial na escrita e publicação de contos, aquelas narrativas mais curtas e centralizadas em um único enredo, onde geralmente temos um único clímax, poucas personagens e um número menor de cenas, Edgar Allan Poe se destacou pelo cuidado com a estética e a riqueza de detalhes que inseria em suas estórias, somadas à sua experiência de vida ao descrever personagens, sentimentos e situações que causavam, e ainda continuam causando, grande admiração por parte de seus leitores. Dentre os gêneros mais comuns que ele adotou estão o terror e o mistério policial. E hoje, trazemos para você, amante dos livros e da literatura, 10 contos deste escritor que você precisa conhecer.
1: A Queda da Casa de Usher (The fall of the house of Usher, 1839)
A Queda da Casa de Usher é um conto gótico que gira em torno da família Usher e dos últimos descendentes que restaram de sua linhagem, onde um personagem não identificado viaja sozinho a cavalo até uma região distante e, segundo ele, “singularmente monótona”, para visitar seu amigo de infância, Roderick Usher, após este ter lhe enviado uma carta dizendo que sofria de algum tipo de enfermidade, e que esperava encontrar, na presença de seu amigo, algum conforto para o mal que havia sofrendo. Ao chegar no local à noite, nosso personagem principal, que também é o narrador, entra na mansão dos Usher, cuja aparência externa revela uma certa decadência por conta dos longos anos que se passaram sem receber quaisquer tipos de cuidado, o que lhe causa algumas sensações inquietantes por conta da atmosfera de tristeza e melancolia que envolve o lugar.
O conto é recheado de elementos da literatura gótica, onde Roderick Usher sofre de uma perturbação psicológica que o acomete, falando sobre uma maldição que envolve todos os membros de sua família, levando-os precocemente ao túmulo, e chama a atenção também para os aspectos sobrenaturais da mansão onde vive e da qual não tem saído durante longos anos, vivendo apenas na companhia de seu criado e de sua irmã gêmea, Madeline Usher, que sofre de uma doença implacável que durante muito tempo vem desafiando a habilidade de seus médicos.
Uma adaptação para o cinema muito interessante foi lançada nos anos 60 com Vincent Price (Roderick Usher) e Myrna Fahey (Madeline Usher) e, embora não tenha seguido ao pé da letra a obra original, explorou de uma maneira bem curiosa alguns traços da obra, como a loucura de Roderick, muito bem interpretada por Vincent Price, e o estado cataléptico de lady Madeline, que no longa-metragem recebeu maior destaque do que na obra escrita.
2: Ligéia (Ligea, 1838)
O romantismo nunca foi tão enaltecido e idealizado como no século XIX, e embora Poe se destaque no gênero de terror e de contos policiais, nunca deixou de lado aquele traço que é tão característico e marcante em algumas de suas obras. Em Ligéia, por exemplo, nosso narrador-personagem descreve em primeira pessoa os encantos de sua amada que morreu acometida por uma grave doença, lamentando a sua ausência como se sua vida não tivesse mais sentido, fazendo dele uma verdadeira criança tateando no escuro sem ela. Ao longo de várias páginas, Poe eleva a figura da mulher em um patamar muito acima do comum e engrandece a sua inteligência, beleza e os mistérios que se escondem atrás do olhar de Ligéia constituindo um verdadeiro estado de reflexão para o personagem principal durante longas horas.
Embora seja recheado de romantismo, não podemos nos enganar e esquecer o gênero original ao qual Poe se tornou conhecido (o terror), e de fato, este conto tem uma pegada sobrenatural que causa arrepios quando a leitura vai seguindo o seu fluxo e é feita de forma mais contemplativa ao se aproximar do fim. A narrativa se passa em uma abadia, onde o personagem faz várias menções ao estilo da sua arquitetura e onde mora com sua segunda esposa, Lady Rowena Trevanion de Tramaine, a de belos cabelos e olhos azuis. Entretanto, diferente da amada Ligéia, ele não guarda nenhuma afeição por ela, até o momento em que esta também é acometida por uma grave doença, onde um novo conflito se inicia dentro dele conduzindo o leitor até o momento do clímax.
3: O Mistério de Marie Rogêt (The Mystery of Marie Rogêt, 1842)
Em O Mistério de Marie Rogêt, Edgar Allan Poe leva um de seus personagens mais ilustres, o célebre detetive C. Auguste Dupin, considerado o primeiro detetive de obras de ficção, que por sinal é bem semelhante a Sherlock Homes, a uma jornada intelectual para descobrir quem está por trás do assassinato de uma jovem e bela parisiense que costumava trabalhar em uma perfumaria e viver com sua mãe antes do seu corpo ser encontrado boiando às margens do Rio Sena. Como Marie era uma moça conhecida e querida por muitos que frequentavam o local, o crime causou uma grande comoção em toda Paris e uma alta recompensa foi oferecida pela polícia e pela população para quem encontrasse o malfeitor. Dupin então faz uso de sua lógica, analisando matérias publicadas nos jornais da cidade sobre o caso e através do raciocínio elimina teorias, cria hipóteses e reconstrói a cena do crime para descobrir o que houve e identificar quem está por trás do assassinato de Marie Rogêt.
Junto com A Carta Roubada e os Crimes da Rua Morgue, O Mistério de Marie Rogêt compõe a Trilogia Dupin, que seriam os contos de gênero policial escritos pelo autor e que traz o detetive como destaque ao lado de seu amigo pessoal (o narrador) para desvendar e solucionar mistérios.
4: O Barril de Amontillado (The cask of Amontillado, 1846)
Neste conto, Poe nos leva até a Itália, em plena loucura do carnaval onde as pessoas andam fantasiadas pelas ruas em clima de festa, e Montresor (personagem principal) se sente injuriado pela desfeita que Fortunato (um conhecedor de vinhos e charlatão em obras de arte) faz com ele, deixando claro no início da narrativa que suportou o melhor que pôde as mil e uma injúrias cometidas por Fortunado, mas quando os insultos tiveram início, ele jurou que se vingaria. Decidido a se vingar, Montresor se aproveita da vaidade e arrogância do suposto amigo a respeito de sua inteligência para atrair a sua vítima até as masmorras de seu castelo onde pretende pôr o plano vil em ação, dizendo a Fortunato que havia recebido um barril de vinho como sendo de Amontillado, mas que não tinha certeza quanto sua origem. Fortunado então o acompanha para provar-lhe que naquela época do ano tal qualidade de vinho não estava disponível e que o “amigo” fora enganado.
O conto traz uma certa comicidade no início, pois Fortunato se encontra completamente embriagado enquanto os dois caminham lado a lado, mas que com o desenrolar da trama se transforma em verdadeiro horror, além de retratar o tema da vingança sob a visão de um personagem que, segundo o conto sugere, é um homem nobre. Embora narrativa seja curta, contando com poucas páginas, consegue prender o leitor do início ao fim graças à genialidade do autor em nos conduzir até o momento chave da estória.
5: O Escaravelho de Ouro (The gold-bug, 1843)
O Escaravelho de Ouro foi uma obra premiada na época que revelou o olhar único de Edgar A. Poe para aventura e mistérios onde dois amigos, um mordomo zeloso e um cachorro se encontram em uma verdadeira caçada ao tesouro na ilha de Sullivan, próximo de Charleston, na Carolina do Sul. Ao encontrar uma pista encerrada em um pergaminho, Le grand, um jovem que fora rico no passado, mas que agora vivia na miséria, inicia investigações que o levam a crer que um tesouro está de fato enterrado na ilha onde reside, e convence os outros personagens, que julgam que seu amigo se encontra em um estado de loucura, merecendo pouca credibilidade, a segui-lo em busca de seu prêmio.
Este conto nos lembra aqueles filmes de piratas e nos conduz a uma verdadeira caçada ao tesouro, onde Poe introduz a alguns conceitos básicos de criptografia para conseguirmos decifrar símbolos escondidos em um mapa que foi encontrado entre os destroços de um navio naufragado e que poderá levar os personagens a uma fortuna incalculável.
6: O Sistema do Dr. Alcatrão e do Professor Pena (The system of doctor Tarr and professor Fether, 1845)
Um dos contos mais divertidos e um dos meus favoritos é o Sistema do Dr. Alcatrão e do professor Pena, onde um jovem rapaz visita uma casa de saúde situada na França, conhecida pelo seu método inovador em realizar tratamentos para loucura, a fim de matar a sua curiosidade, pois ouviu falar do local pelos seus amigos médicos, mas nunca antes havia visitado um estabelecimento daquele gênero. O rapaz, ingênuo, é recebido pelo Dr. Maillard, diretor do manicômio, que lhe introduz sobre os seus métodos e os seus pacientes convidando-o para um jantar onde uma verdadeira multidão de pessoas, em sua maioria mulheres, está reunida em uma mesa, ao som de música, bebida e uma farta ceia. As pessoas começam a falar sobre o instituto e sobre os loucos que passaram pelo local, fazendo algumas imitações de seus episódios de demência e observações que causam um certo espanto ao visitante, assim como a forma que elas estão vestidas, e aos poucos o leitor é levado a uma atmosfera verdadeiramente divertida graças às personalidades incomuns das personagens e situações que nos são apresentadas.
Perdi o número de vezes que li este conto e, devo dizer, que ao invés de ser um conto de terror é uma narrativa muito leve e agradável para tirar algumas risadas de quem lê. Tal a versatilidade de Poe.
7: A máscara da morte Rubra (The masque of the red death, 1842)
Se o conto anterior é uma aventura divertida e leve, este pode causar um certo choque (ou não), sendo notavelmente um conto de terror que fala sobre morte. O príncipe Próspero, ao perceber que os arredores da cidade está sendo devastado pela morte rubra, decide encerrar-se em sua abadia fortificada com alguns de seus convidados, escolhidos entre os fidalgos e damas da corte, onde passa a realizar um baile a fantasia com tudo o que tem direito, esquecendo-se dos problemas que acontecem no mundo à fora, mas não imaginando que um convidado inesperado surgiria na festa para a surpresa de todos.
Com uma descrição pormenorizada e rica em detalhes do cenário onde a festa acontece, o leitor é convidado a percorrer os 7 salões imperiais dentro da abadia para acompanhar o desenrolar da história. A máscara da morte rubra é um daqueles contos que faz jus ao nome.
8: O Poço e o Pêndulo (The pit and the pendulum, 1842)
O Poço e o Pêndulo é uma história que se passa em uma época próxima à idade média, no período da Inquisição, onde um homem, feito prisioneiro, acorda em uma cela e descreve o seu estado de agonia à medida em que ele explora o calabouço em que se encontra, imaginando os possíveis horrores que sofreria na mão dos seus algozes ao proclamarem a sua sentença de morte. É um conto que explora os sentimentos aterrorizantes que o personagem sente a cada passo que dá em sua prisão sem ter contato com nenhuma fonte de luz, o que lhe oprime profundamente, e o coloca diante da morte, que ele sente a cada instante se aproximando dele.
9: O retrato ovalado (The oval portrait, 1842)
Embora seja um dos contos mais curtos que o Poe já escreveu, segundo o meu conhecimento, algo que acredito não ultrapassar mais do que quatro páginas, a construção da obra é maravilhosa e permite ser apreciada de uma forma intensa, pois a narrativa é bem interessante.
Um homem fugindo de uma tempestade, acompanhado de seu criado, entra em um edifício abandonado para passar à noite, e dentro de um dos aposentos há vários quadros encerrados em molduras de ouro pendurados sobre a parede, mas um em especial chama a sua atenção, a pintura de uma bela jovem, por lhe causar a impressão de que a pintura está viva. Ao encontrar um livro que narra a história daquele quadro, ele descobre que um artista, apaixonado pela sua arte e por sua esposa, decide pintar o autorretrato dela, e o homem toma conhecimento de uma situação aterrorizante que se passou durante o momento em que o artista finalizava a sua obra prima.
10: O caso do Sr. Valdemar (The facts in case of Mr. Valdemar, 1845)
Trazendo um assunto que talvez fosse bem polêmico para a época, Poe explora as diferentes possibilidades do hipnotismo, onde Valdemar, um homem que está à beira da morte é hipnotizado por um cavalheiro que deseja confirmar se os efeitos da hipnose poderiam se prolongar após a morte de um indivíduo. A estória se passa no quarto do Sr. Valdemar, onde também se encontram os doutores D... e F... e um jovem estudante de Medicina que registra em notas o experimento à medida que o personagem principal (novamente o narrador) realiza sobre o doente. O conto causa mais curiosidade do que sensações de horror, mas é bem interessante, e até hoje não me recordo de ter lido uma história que trate de um tema parecido.
Alguns críticos chamam atenção para a natureza repetitiva dos contos de Poe, chamando-o de mecânico, pois com frequência os cenários de suas histórias possuem longas e negras tapeçarias, mulheres fantasmais, personagens com a mente enferma à beira da loucura, elementos fúnebres e outras situações que são recorrentes. Porém, isso não diminui de maneira alguma o encanto de suas obras. Por outro lado, um olhar atencioso poderá notar uma espécie de ligação entre um e outro conto, onde nas entrelinhas Poe parece conectar uma estória a outra deixando pistas para o leitor fazer a associação das personagens, como acontece nos contos A Queda da Casa de Usher e Berenice, onde os personagens principais fazem parte de uma ilustre família de remota estirpe e a descrição dos familiares e da mansão onde residem é próxima de mais para enxergamos como uma mera coincidência.
Em boa parte dos contos do Poe temos uma narrativa em primeira pessoa com o narrador atuando como personagem principal descrevendo ou vivenciando os fatos enquanto observa ou interage com outros personagens, sendo talvez este o gênero mais predominante em suas obras. Porém, em outras momentos, podemos ver outros tipos de narrativa, como em A Máscara da Morte Escarlate, que segue em uma perspectiva em terceira pessoa sem qualquer intervenção do narrador.
Sobre o autor
Edgar Allan Poe (1809-1849)
Edgar Allan Poe nasceu em Boston, nos EUA, em 1809, e mudou-se anos mais tarde para Nova York, o maior centro literário americano da época. Teve uma vida conturbada, mas apesar das dificuldades, conseguiu levar à luz do público os seus contos e poemas pelos quais alguns lhes concederam prêmios e abriram portas para a sua carreira literária e editorial. Teve uma esmerada educação clássica e aprendeu diferentes idiomas, além de trabalhar como redator e editor em alguns jornais e revistas da época como o Literary Messenger, a Gentleman Magazine e a Graham’s Magazine. As obras de Edgar Allan Poe vêm sendo mencionadas na mídia através de filmes e séries que mantêm viva a memória do grande escritor que traz em sua coletânea de contos e poemas estórias empolgantes e memoráveis.
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