Por que o k-pop se tornou um fenômeno mundial?

Confira uma análise sobre os motivos que podem explicar o crescimento do pop sul-coreano e sua expansão para o ocidente.

27/01/2020 Última edição em 28/04/2020 às 08:09:55

O K-pop é o novo fenômeno musical mundial, e quanto a isso acredito que todos podemos concordar. Mas a dúvida que fica é: como essa indústria fonográfica, que há cerca de dez anos era tão inacessível, se tornou tão gigantesca a ponto de ter reconhecimento nos quatro cantos do planeta?

Considerando que este possa ser seu primeiro contato com o K-pop (e caso seja, eu me pergunto em qual pirâmide do Egito você estava preso ou presa nos últimos anos), permita que eu dê algumas informações. Os moldes do estilo, apesar de terem sido atualizados com o tempo, têm seu início em 1992, com o debut (a estreia) do grupo Seo Taiji & Boys. Incorporando o hip-hop em suas músicas e trazendo uma atitude animada nas performances, o grupo iniciou uma carreira de sucesso que abriria as portas para centenas de grupos nos anos que se seguiram. Em 1995, com a criação da SM Entertainment, e o debut do grupo H.O.T., se inicia a primeira geração de idols do K-pop, trazendo mais do que um grupo de artistas, mas de objetos de admiração e inspiração. No início dos anos 2000 começa a ocorrer a onda coreana, a Hallyu, um movimento de expansão da cultura sul-coreana para, inicialmente, outros países asiáticos. Com o sucesso de artistas como a cantora solo BoA e o grupo masculino TVXQ!, a chamada segunda geração do K-pop estabelecia novos recordes de vendas, público e fãs. Vale lembrar que houve um tempo em que o Cassiopeia, fandom (grupo de fãs) oficial do TVXQ! como o maior do mundo no Guiness Book.


(TVXQ!, grupo da SM Entertainment, em sua formação original)

Se no final dos anos 2000 o pop sul-coreano já havia conquistado a Ásia, lado a lado com a cultura dos doramas (novelas), qual seria o próximo passo da Hallyu? Inundar o ocidente! Se aqui no Brasil o estilo começou a crescer por conta dos fãs de cultura asiática num geral, incluindo otakus e apreciadores de J-music, na Europa e restante da América o início do sucesso se deu pelos hits com sonoridade mais ocidentalizada e eletrônica. Não é difícil atestar que I Am The Best, música do grupo feminino 2NE1 foi um grande marco em 2011 para o gênero. Pode-se dizer que foi a primeira vez que um hit do K-pop se tornou conhecido fora do seu núcleo de interesse.

Em 2012, no entanto, foi o momento em que todos viraram os olhos para a Coreia do Sul. Apesar da música não ser um exemplo que resuma bem o que é o pop de lá, Gangnam Style, do solista PSY, se tornou um viral como nunca antes se havia visto. Um vídeo que hoje acumula mais de TRÊS F**KING BILHÕES de visualizações no YouTube (isso se considerarmos a outra versão da música, protagonizada pela Hyuna, que possui mais de SETECENTOS CRAZY MILHÕES de visualizações) foi um divisor de águas para o estilo. Mesmo que o grande estouro tenha vindo apenas alguns anos depois, foi naquele ano que a primeira enxurrada de matérias falando sobre K-pop em TVs e jornais.


(BTS, grupo formado pela Big Hit Entertainment)

Tudo isso preparava o terreno para que membros da chamada terceira geração explodissem no mercado ocidental, especialmente no mercado que acaba (queiramos ou não) guiando o que se escuta no mundo: o norte-americano. Ninguém viu chegando, mas desde 2017 nós vimos BTS e BLACKPINK aparecendo em programas de TV, ganhando prêmios, quebrando recordes e sendo aclamados pela mídia. Mas, finalmente vamos à conclusão da pergunta que dá título a essa análise: COMO RAIOS ISSO ACONTECEU?

Primeiro é preciso dizer: ninguém tem tanta certeza. Vários motivos podem ser apontados, mas vários outros questionamentos podem ser feitos a esses mesmos motivos. Tudo é teoria, mas vamos tentar observar a coisa como um todo.

É QUASE consensual entre os fãs de música pop que não surgia nada realmente novo ou impactante no mercado fonográfico desde Lady Gaga. Aqui não importa se a musicalidade dela era realmente NOVA ou uma nova roupagem para algo ANTERIOR, mas não se pode negar que o mix de revival com inovação trazido por ela foi marcante para a época. Além disso, o crescimento e popularização das redes sociais trouxe uma quebra de barreiras geográficas e culturais. Além disso, os ouvintes de música pop se tornaram novamente adeptos aos grupos com One Direction, Little Mix e Fifth Harmony sendo os carros-chefes.

Tudo isso aliou-se a um fator que eu julgo determinante e que traz o grande diferencial entre o mercado sul-coreano e o norte-americano: a cultura de idols. Não se trata apenas de música, mas também de uma relação criada entre artistas e fãs. Se de um lado as pessoas sabem que a Ariana Grande vai lançar um novo single falando sobre o último relacionamento dela, do outro lado as pessoas estão assistindo a uma live dos membros do BTS comendo e falando sobre o que eles mais gostaram na última viagem que fizeram, ou vendo as meninas do BLACKPINK participando de um programa engraçado onde elas estão (ao menos aparentemente) despidas de suas personas de palco. E não importa a barreira idiomática - os fansubs para esse tipo de conteúdo são rápidos e em grande quantidade hoje em dia. Se o EXO ou o TWICE agradecem aos/às EXO-Ls e ONCEs a cada discurso, cria-se uma conexão. Se o Red Velvet grava um programa onde elas visitam vinícolas e agem exatamente como nós quando estamos bêbados (se você tiver menos de dezoito anos, não se atreva a concordar com esse “nós”) há uma sensação de proximidade. Ao mesmo tempo, há sim o ideal de perfeição criado pela indústria, que pode ser sim uma faca de dois gumes, mas que traz a admiração do público.


(BLACKPINK, grupo da YG Entertainment, primeiro grupo de K-pop a performar no Coachella)

Apesar de citar muito o BTS e o BLACKPINK, talvez porque sejam os maiores exemplos de sucesso aqui no ocidente (e basta ver que um se apresenta em diversas premiações nos lados de cá, enquanto o outro performou no Coachella e recebeu elogios de grandes artistas), há outros grupos mencionados, além de mais alguns em ascensão, que ainda não ultrapassaram a bolha do nicho. Hoje em dia não é difícil achar alguém na rua com uma camisa escrito Jimin, mesmo que essa pessoa não conheça nenhum outro grupo além de BTS. Apesar disso, também é muito mais fácil achar alguém que se diga kpopper do que há cinco ou dez anos atrás.

Se aqui tentei falar de algumas razões para o crescimento do K-pop, ainda que existam muitas outras, ainda fica uma pergunta: até onde esse gênero musical pode chegar? Um estilo que movimenta absurdamente a economia da Coreia do Sul e que já faz o próprio governo repensar algumas de suas leis (como a do alistamento obrigatório, por exemplo, ainda que a alteração não tenha sido feita): qual patamar ele pode alcançar ao nível mundial? Bem, talvez daqui há alguns anos eu precise voltar nesse tema...




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